Uma rua que desce, uma rua que sobe. João sentado na calçada, Maria cantando em sua janela, ambos vendo o pombo branco voar.
Anoitece.
João sobe a rua e entra em sua casa. Maria fecha sua janela e vai cozinhar. João e Maria não se conhecem, embora morem solitários na mesma rua, ele insiste em subir e ela em descer. Nunca se encontraram, a não ser no pombo que reflete em seu olhar a imagem de um ao outro.
Chove.
João não sobe a rua que Maria teima em descer. Maria não abre a janela, a janela quem flerta com o pombo e toca na calçada onde João estaria sentado. O pombo molhado, molhado da chuva, da esperança de um amor.
Amanhece.
Maria sai de sua casa para ir ao mercado. Ela prepara um grande bolo de macaxeira para alguém que nem ela imagina. João não vai à calçada, mas, toma banho e resolve descer a rua. Ele não vai até o fim, para em frente a casa onde está o pombo branco pousado na janela.
Acontece.
Então, ele toma a liberdade de bater na porta. Antes da segunda batida, Maria abre a porta. Numa troca de olhar inigualável, eles não trocam uma palavra e entregam-se a uma beijo demorado, beijo prometido pelo pombo, o pombo do amor.